terça-feira, 15 de setembro de 2009

TABAGISMO EM ARACAJU

 
Publicado em: 14/09/2009 14:45:10
Vereadores de Aracaju debatem sobre tabagismo


Em Sessão Especial, realizada na Câmara Municipal de Aracaju (CMA),  nesta segunda-feira, 14/9, os vereadores discutiram o teor do Projeto de Lei 68/2009, de autoria do vereador Emmanuel Nascimento (PT), que trata da proibição do uso de fumo e seus congêneres em locais fechados: públicos e privados.

A palestra foi aberta pela coordenadora estadual do Programa de tabagismo da Secretaria de Estado da Saúde, Livia Angélica que adiantou que nada tem contra as pessoas que fumam. A  grande preocupação é também defender aqueles que não fumam e estão sendo prejudicados de forma passiva, acrescentou.
A oradora destacou ainda sobre importância da aprovação do projeto que tramita na CMA, notadamente, por tratar-se de uma luta em defesa da vida.  Quero parabenizar o vereador Emmanuel Nascimento pela iniciativa e conclamar os vereadores a atentarem bem para esta questão, mesmo sabendo que trata de algo  capaz de transformar costumes e a maneira de viver das pessoas, frisou.
A coordenadora estadual  da Atenção Básica  da SES, Ana Débora Santana, disse entender que este tema não tem como objetivo discutir a proibição do indivíduo que fuma , mas discutir a defesa daqueles que são prejudicados, mesmo sem fumar. Santana também parabenizou o autor do projeto pela ousadia em colocar para discussão algo que  envolve mudanças  de comportamento humano, porém considera importante defender a vida, transformando este projeto em lei.
Como convidados, participaram da sessão especial: o secretário de Estado, Rogério Carvalho,  a coordenadora estadual do Programa de Tabagismo da Secretaria  de Estado da Saúde (SES), Lívia Angélica da Silva,  o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Marcos Luiz Macedo Santana, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Álvaro Egerland e o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Sergipe, Manoel Lisboa.
Opiniões
Falando em nome do Conselho Municipal de Saúde,  Marcos Luiz Macedo Santana afirmou que não considera o projeto polêmico, pois já é do conhecimento de todos que o fumo é prejudicial à saúde. No entanto, concorda que algo seja feito no sentido de defender a integridade física das pessoas que não fumam. Para  o palestrante,  é importante que os legisladores encontrarem  um texto adequado, lembrando que vender e fumar não é proibido.Coloco à disposição desta Casa o nosso Conselho e convido o autor do projeto para discutir  junto às comunidades que também serão convidadas para tal, reforçou.
Já presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Álvaro  Egerland, destacou que a forma como este tema vem sendo discutido em Aracaju, é bem diferente de como foi tratado em São Paulo, quando de forma radical aprovaram uma lei que terminou causando sérios transtornos à sociedade.  No Brasil  foi gasto uma fábula na divulgação do cigarro e não se pode de uma hora para outra tirar o direito dos fumantes, comentou Egerland dizendo ser favorável em relação a criação de locais destinados aos fumantes e coibir o uso do fumo em locais a exemplo de supermercados e  farmácias, onde as pessoas  têm necessidade de frequentar.
Na sequência,  o secretário de Estado da Saúde, Rogério Carvalho disse ter um visão diferente de quase tudo o que foi discutido, pois entende que não se deve permear esta questão discutindo em qual lugar deve ser liberado ou proíbido o fumo. Para o secretário a questão é defender a vida, pois o fumante vive em média menos 25 anos e muitos terminam sendo vítimas de AVC, infarto, trombose e outros tipos de doenças que custam muito alto ao estado em termos de tratamento e mais ainda aos seus familiares que precisam lidar diariamente com estes doentes.
Vereadores
Concluída a participação dos convidados, o primeiro vereador a utilizar a tribuna para tecer suas considerações foi Emerson Ferreira (PT). No seu entendimento, a questão  deve ser tratada com uma meta bem definida.  Não é aconselhável defender o lucro, e sim priorizar a vida completou.
O vereador do PDT, Moritos Matos, questionou à Dra. Ana Débora sobre o que tem sido feito para combater o aumento do número de jovens  e das mulheres  em realação ao vício Em resposta, Débora informou que o Programa Conte Comigo é voltado para a orientação dos jovens e vem sendo desenvolvido  com sucesso e que em relação à mulheres,  existe o Programa Bem Mulher, que também trata deste tema e de outros temas.
O segundo secretário da CMA, Danilo Segundo (PSB)  disse considerar a discussão muito interessante, pois todos sabem os prejuízos causados pelo uso do fumo e disse entender que o governo gasta muito mais com a recuperação do que com a prevenção e que é fundamental dificultar  o uso do cigarro, já que proibir não é possível.
A vereadora Rosangela Sanatana (PT) citou que no seu caso, que fuma desde os 15 anos de idade, fica muito difícil deixar o vício.. Porém a parlamentar se considera uma fumante consciente e que  aos poucos vem reduzindo o uso do cigarro, além de se policiar não fumando em determinados locais.
O parlamentar do DEM, Juvêncio Oliveira, mostrou-se preocupado com a vereadora Rosangela, porém tem certeza de que a mesma serve de exemplo , mostrando que com força de vontade é possivel deixar de fumar. Para Oliveira quanto mais campanhas forem feitas, mais fácil  fica mostrar, pricipalmente aos jovens, que o fumo causa muitos prejuízos à saúde.
O vereador Fábio Mitidieri (PDT)  afirmou que os fumantes, como pessoas conscientes, reconhecem os prejuízos que o vício podem causar, mesmo fumando. Mitidieri defende a implementação de campanhas educativas para mudar  a vontade daqueles que ainda pensam em começar a fumar.
A vice-presidente da Câmara, Miriam Ribeiro (PSDB), elogiou o autor do projeto pela importância do tema e disse considerar salutar defender a vida e tentar salvar pelo menos a juventude do uso do fumo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O NASCIMENTO DA 13 DE JULHO

Na madrugada de 13 de julho de 1924, a cidade de Aracaju era sacudida por cruento tiroteiro, alimentado pelo matraquear das metralhadoras do 28o Batalhão de Caçadores, cuja corporação havia sido sublevada pelo capitão Eurípedes de Lima e tenentes Augusto Maynard Gomes, João Soarino de Melo e Manuel Messias de Mendonça para apoiar a Revolução Paulista de 1924, que havia estourado na cidade de São Paulo, a 5 de julho, sob a liderança do general Isidoro Dias Lopes, major Miguel Costa, João Cabanas e Joaquim Távora, conta o presidente da República, Artur da Silva Bernardes. O objetivo desse movimento de oposição a Bernardes era por fim à oligarquia do Partido Republicano Paulista e Partido Republicano Mineiro, que impunham sempre em seus conchavos os presidentes, impedindo assim que se manifestasse livremente o desejo do povo na escolha do chefe da nação.

Crises militares foram uma constante na primeira fase da República, mas, a partir de 1922, elas ganhariam um novo protagonista: a oficialidade de baixa patente, de que decorreu a denominação "Tenentismo". Encarnando as aspirações da classe média urbana, esses revolucionários pugnavam pela adoção do voto livre e secreto e pela moralização dos costumes políticos.

O primeiro levante tenentista teve lugar no final do governo do presidente Epitácio Pessoa, com a Revolução do Forte de Copacabana. Enfrentando uma grave crise militar, provocada pela publicação na imprensa de cartas ofensivas às Forças Armadas, atribuídas ao candidato Artur Bernades, Epitácio Pessoa determinou o fechamento do Clube Militar e a prisão do seu presidente, Hermes da Fonseca. Dois meses depois, a 5 de julho de 1922, revoltaram-se as guarnições dos fortes do Vigia e de Copacabana, neste último sob o comando do capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho do ex-presidente. A revolta, contornada em dois dias, não teria maiores conseqüências, não fosse o episódio dos 18 do Forte de Copacabana, quando o tenente Antônio Siqueira Campos e dezesseis companheiros negaram-se a capitular e marcharram para a praia, onde a adesão do civil Otávio Correia. Ali, enfrentaram sozinhos as tropas do governo. No combate, morreram os tenentes Nilton Prado e Mário Carpenter e o civil Otávio Correia.

A Revolta de 13 de julho, associada ao 5 de julho, marca o início do movimento tenentista em Sergipe. Os revoltosos atacaram o Palácio do Governo, que foi defendido pelo tenente Stanley Fernandes da Silveira. Na luta, morreu o soldado José Martins de Castro e saíram feridos o cabo Macílio Cordeiro Santana Bárbara e o soldado Manuel Inácio Teles. No ataque ao Quartel da Polícia Militar, situado na antiga rua da Frente, hoje Ivo do Prado, onde funcionava a Secretaria da Educação morreu o soldado José Rodrigues de Oliveira e muitos ficaram feridos. O Telégrafo Nacional e a Estação Ferroviária, esta última localizada nas proximidades do Mercado Thales Ferras, foram ocupados simultaneamente. Recolhiam-se presos ao Quartel do 28o Batalhão de Caçadores, então localizado na atual praça General Valadão, onde hoje está edificado o antigo Hotel Palace de Aracaju, os oficiais que não aderiram ao movimento, a começar pelo seu comandante, major Jacinto Dias Ribeiro, capitães Augusto Pereira, Misael Mendonça e Galdino Ferreira Martins e os tenentes Heráclito D'Ávila Garcez, Antenor Cabral, João Batista de Matos e José Figueiredo Lobo, filho do ex-presidente do Estado de Sergipe, José Joaquim Pereira Lobo.

Na mesma madrugada, era também preso o chefe de Polícia, Ciro Cordeiro de Farias, e a resistência do governo estadual ficava fraca e acéfala, tendo os revoltosos ocupado todos os pontos estratégicos da capital.

No dia seguinte o presidente (governador), do Estado, Dr. Maurício Graccho Cardoso, era preso e recolhido ao Quartel do 28o BC, juntamente com alguns auxiliares do primeiro escalão, entre eles o Dr. Hunald Santaflor Cardoso e o secretário geral do governador, Dr. Carlos Alberto Rolla. O governante ficou incomunicável enquanto durou a revolta.

Formada a Junta Governativa, logo passou-se à convocação de reservistas e de voluntários. Aracaju estava em pé de guerra. Enorme era o aparato bélico nas suas ruas e areais.

Preocupados com um possível desembarque de tropas contrárias pelo mar, os revoltosos cuidaram logo de minar a barra do rio Sergipe e de estacionar o caminhão Sergipe nas brancas areias da praia Formosa, voltado para o canal. Ali também, colocaram mais dois canhões, um denominado de União Faz a Força e o outro conhecido por 42, mortífera arma alemã da Guerra de 1914. Na praia Formosa, cavaram vários trincheiras e levantaram barricadas com sacos de areia.

A resistência à possível reação dos bernardescos não ficou só em Aracaju. O tenente Maynard deslocou tropas para a vila do Carmo, atual Carmopólis, ao Norte, visando conter o Batalhão Hercílio Brito, que marchava contra as suas posições com mais de 80 homens em armas e muito cangaceiros procedentes do Baixo São Francisco. Tropas de Maynard foram ainda enviadas para São Cristóvão e Itaporanga D' Ajuda, ao Sul. Sabia-se, outrossim, que partia de Simão Dias uma coluna comandada pelo coronel Pedro Freire de Carvalho, objetivando defender o presidente do Estado, em poder dos revoltosos.

Em Salvador, o general Marçal Nonato de Farias era encarregado pelo governo federal de restabelecer a ordem em Sergipe, sufocando a revolta e reconduzindo ao governo o Dr. Graccho Cardoso. Para essa tarefa, contou com mais de mil homens, procedentes de várias unidades militares, a começar pelo 20o BC, de Alagoas; 21o BC, de Pernambuco; e 22o BC, da Paraíba. Contou, mais, com soldados das Polícias Militares da Bahia e de Alagoas, alem do Batalhão Hercílio Brito.

Na verdade, só revoltosos do 28o BC cumpriram o articulado com os camaradas paulistas. Em São Paulo, o governo federal reagiu logo, bombardeando a cidade às cegas, atingindo civis e residências. No final de julho, o comando revolucionário evacuou a cidade, dirigindo-se parte de suas tropas para o Sul, onde se juntou às forças do capitão Luís Carlos Prestes, e parte para Catanduva, onde ainda houve uma resistência por alguns meses.

As tropas de Prestes haviam surgido no Rio Grande do Sul, como decorrência da Revolução de 1924. Quando se uniram à Coluna Paulista, formaram um novo destacamento revolucionário, a Coluna Preste, que por quase três anos percorreu 36.000 Km pelo interior do Brasil, através de quase todos os Estados, divulgando o programa revolucionário do tenentismo e travando uma série de combate com as forças do governo.

O restabelecimento da ordem legal em Sergipe tornava-se, contudo, missão espinhosa para o general Marçal Nonato, desde quando teria que cumpri-la sem derramamento de sangue e sem negociar condições de rendição com os revoltosos.

Por outro lado, o capitão Euripedes de Lima, em nome da junta Governativa, anunciava às autoridades e ao povo em geral que os revoltosos estavam preparados para reagir a qualquer provocação ou afronta. Dizia, mesmo, que a deposição do Dr. Graccho Cardoso não se prendia à política estadual, absolutamente. Atendia, isso ao movimento revolucionário.

O primeiro choque dos revoltosos com o Batalhão Hercilio Brito aconteceu nos arredores de Carmópolis e os ribeirinhos fugiram desesperados ao primeiro tiro de um velho canhão.

No Rio de janeiro, o Congresso Nacional decretava no dia 14 de julho o Estado de Sítio sobre São Paulo, que se estendia aos Estados de Sergipe e Bahia.

Respaldado com instrumentos legais, o general Marçal Nonato montou a operação para restabelecer a legalidade em Sergipe. Seria uma campanha conjunta de mar e terra. Para isso contou com navios da Marinha de Guerra e locomotivas da Ferrovia Leste Brasileiro.

Devido às dificuldades ao desembarque que teriam as tropas legalistas na praia Formosa, o executor do sítio em Sergipe preferiu desembarcá-la nas praias da Estancia.

Com efeito, no dia 24 de julho, por cerca das 10 horas, os navios Comandante Miranda, Iris, Maraú e Canavieiras singravam as águas do rio Real e Piauí, desembarcando as tropas e os equipamentos no Crasto, em Santa Luzia do Itanhy.

Defronte da praia do Mangue Seco, ficando ao largo o contra-torpedeiro Alagoano.

O cerco aos revoltosos apertava. O general Nonato proclamava a 25 de julho, na Estancia, que todos os atos praticados pela junta Governativa estavam nulos. Adiantava que até o momento do restabelecimento da ordem constitucional todas as autoridades de deviam-lhe obediência, situação que somente cessaria com a reposição do Dr. Graccho Cardoso no governo do Estado.

Ajuntados os primeiros preparativos, a tropa da Polícia da Bahia foi unir-se a segmento do Exército em Salgado. Daí partiram para Itaporanga D'Ajuda, onde os revoltosos recuaram para São Cristóvão e, de São Cristóvão, recuaram ainda mais para Aracaju, em que a resistência foi efêmera fazendo-os capitular. Em Carmópolis a resistência foi maior, em que pese o porfiado tiroteiro que abafou a retaguarda dos tenentes.

A calma somente voltou a reinar em Aracaju a 03 de agosto. Revoltosos eram capitulados e levados ao Quartel do 28o Batalhão de caçadores, outros entregavam-se voluntariamente. O tenente Augusto Maynard, auxiliado pelo amigo Brasiliano de Jesus, conseguiu fugir ao cerco e bateu-se em São Paulo, sendo preso e conduzido à ilha da Trindade, localizada a 1.150 Km a leste do Estado do Espirito Santo, que se havia transformado em prisão militar. Mais de 500 pessoas foram indicadas em processos criminais, porém os ideais de liberdade permaneceram vivos entre os sergipanos.

Com Maynard, nascia em Sergipe a liderança na luta contra a casa-grande e a cana-de-açúcar, na expressão do professor Artur Fortes.

O coroamento, porém, do movimento tenentista em Sergipe, deu-se com a Revolução de 30 e, principalmente, com a nomeação do capitão Augusto Maynard para Interventor Federal do Estado.

E, em homenagem, a praia Formosa transformava-se em "Praia 13 de Julho", pelo Ato no 11, do Intendente Municipal Camilo Calazans, publicado no Diário Oficial de 28 de novembro de 1930, em que Augusto Maynard Gomes foi reconhecido com o grande líder militar do levante de 13 de Julho de 1924.

HISTÓRIA DE ARACAJU

Logo após o descobrimento do Brasil em 1500, algumas áreas da nova colônia de Portugal encontravam-se em estado de guerra devido ás divergências culurais entre índios, negros escravos e os invasores de outros países da Europa. Um desses territórios de conflito situava-se no nordeste brasileiro entre os rios Real e São Francisco. A necessidade de conquista-lo e acabar com as brigas entre índios, franceses e negros, que não aceitavam o domínio português, era de extrema urgência para o trono, pois manter a ordem era uma questão de segurança, além de se tratar de um ponto estratégico, pois o território estava localizado exatamente no meio de dois grandes pólos, as capitanias de Pernambuco e Bahia.

Um dos últimos do Brasil a se encontrar neste estágio, o território de Sergipe Del Rei foi uma espécie de zona franca muambeira onde os piratas franceses, que entravam pelas barras dos rios Sergipe, Real e Vaza-Barris (também conhecido como Ipiranga) faziam a festa com o comércio clandestino entre índios da região.

O local onde se encontra o município de Aracaju era a residência oficial do temível e cruel cacique Serigy, que segundo Clodomir Silva no "Álbum de Sergipe", de 1922, dominava das margens do rio Sergipe às margens do rio Vaza-Barris.

O aviso dos navegantes.

Os navegantes costeiros daquela época subiam a costa brasileira fazendo anotações nos diários de navegação, mesmo quando costeavam o litoral norte da Bahia, conhecida por não possuir bons ancoradouros. Passada a barra do rio Real e até depois da barra do rio São Francisco, uma estranha amnésia coletiva impediu que eles fizessem anotações.

Entre as duas barras estendiam-se cerca de 170 km de costa - uma costa cega, no jargão marítimo, pois não havia sombra de nenhum vilarejo. Atrás da costa se alongavam as "ferozes terras sergipanas". A beleza da costa impressionava tanto que, diz o lenda, os navegadores apenas escreviam frases como "não há depois do céu mais formosura". Isto talvez explique a misteriosa falta de anotações marítimas. Lendas à parte, o litoral sergipano realmente se destaca dos demais no nordeste brasileiro, por possuir características peculiares, como ausência de recifes e pedras, estuários e a foz de vários rios que desembocam no mar transformando o encontro das águas num espetáculo ímpar.

Território difícil.

A primeira tentativa de dominar a região foi em 1575. Durante o governo de Luiz de Brito de Almeida, padres jesuítas da Cia, de Jesus iam tentando catequizar e pacificar os índios. O intrépido padre Gaspar Lourenço fundou várias missões em Sergipe sem, contudo, ir além das margens do Vaza Barris. No início os índios aceitaram a catequese, mas depois resistiram, malogrando, desta forma, a primeira tentativa da conquista de Sergipe.

Em 1588, autorizado pelo rei de Portugal, Francisco Giraldes, nomeado Governador Geral do Brasil, determinou uma guerra pra resolver o problema no território de Sergipe, mas morreu antes mesmo de chegar ao Brasil, sem assumir o governo nem iniciar a guerra. Enquanto isso... em Sergipe Del Rei as desavenças continuam... Os franceses se divertem... e Serigy reina absoluto nas belas terras.

Cristóvão de Barros é designado como sucessor e em 1589 promove a guerra tão sonhada pelo trono português, expulsando os franceses, aprisionando os negros da Guiné que fugiram da Bahia e acabando com o reinado de Serigy.

A sangrenta guerra promovida por Cristóvão de Barros foi um divisor de águas entre a pré-história de Sergipe e sua verdadeira história, onde não faltam demonstrações de força, coragem e dignidade de um povo heróico, brado e retumbante.

Poucos anos depois da guerra, quando as coisas já haviam se acalmado nas terras sergipanas, Cristóvão de Barros funda a cidade de São Cristóvão. Alguns historiadores acreditam que o nome é em homenagem a um amigo homônimo, Cristóvão de Almeida, um oleiro que viveu 128 anos, mas há uma possibilidade bastante evidente de marketing pessoal.

Após a guerra, algumas edificações foram erguidas, além do pequeno forte e do paiol que já existiam. Em 1596 a terra começa a ser distribuída através das Cartas de Sesmaria e a Quarta cidade fundada no Brasil começa aos poucos a prosperar. As principais atividades econômicas giravam em torna da extração do pau-brasil, cultivo da cana-de-açúcar e criação de bovinos. Outros povoados vão se erguendo ao longo do fértil Vale do Cotinguiba.

O crescimento do Vale e a prosperidade em outros extremos do território sergipano evoluíram e quase três séculos depois a região chegará a um impasse - como escoar toda a produção ?

Aracaju - uma cidade que já nasceu capital.

A província de Sergipe crescia em produtividade mas não conseguia dar vazão a toda produção. A criação de um porto no Vale do Cotinguiba (atualmente Rio Sergipe), seria a opção mais racional.

Em 1832 começam os pensamentos de mudança. Sebastião Gaspar de Almeida Boto propôs ao conselho a transferência da capital para Laranjeiras. Em 1835 Inácio Barbosa, presidente da província, retoma o assunto, mas com outra preferência.

O porto de São Cristóvão escoava duas mil sacas de açúcar enquanto pela Barra do rio Sergipe saiam 25 mil sacas oriundas da região do Vale. Era uma questão bastante delicada a construção do novo porto, pois a transferência da capital seria inevitável e muitas figuras ilustres de São Cristóvão não tinham o menor interesse em ver as terras desvalorizadas. Estamos na primeira metade do século XIX.

Outros motivos para a mudança.

São Cristóvão já apresentava traços de decadência. Muitas ruas sem calçamento, estreitas e tortuosas. Havia poucos prédios públicos, o comércio era modesto e as transações comerciais inexistentes. Não havia nenhuma casa estrangeira de arte e intercâmbio cultural, ou indústria. Mas o principal motivo era a questão hidrográfica, por situar-se no fundo do Rio Paramopama com dependência de marés e dificuldades para navegação, com marés baixas que não permitiam nem o fluxo de canoas, muito menos a construção de um porto. São Cristóvão, apesar do romantismo colonial com belos casarios e sobrados, calçadas de pedras portuguesas e mosaicos de azulejos nas fachadas, era o lugar menos próprio para ser capital de uma província que crescia e se moldava aos tempos modernos. A escolha de novo local - Uma cidade Mangue beat. No povoado de Santo Antônio do Aracaju já existia uma escola e uma capela - o templo religioso mais antigo de Aracaju.

Inácio simpatizava com esta opção, mas apresentou duas alternativas aos deputados. Na primeira, a capital sergipana passaria a ser na Barra dos coqueiros, na época pertencente ao município de Santo Amaro das Brotas. Situada na margem esquerda do rio Sergipe, possuía boa localização mas existia um clima ardente e poucas nascentes de água potável. A segunda opção era o povoado de Santo Antônio na margem direita do mesmo rio, com fartura de água e tendo ao fundo o fértil município de N. Sra. do Socorro. Inácio era um homem inteligente e através de relatórios, ingenuamente tendenciosos, conseguiu a simpatia de alguns parlamentares.

O presidente convocou uma sessão extraordinária que pegou os deputados de surpresa. No dia 02 de março de 1855, a Assembléia Legislativa da Província foi convocada para uma sessão em uma das poucas casas que existiam na praia do Aracaju. O projeto era a elevação do povoado Santo Antônio à categoria de cidade e, automaticamente, capital. A perplexidade dos deputados foi tão grande que muitos votaram a favor e só perceberam exatamente do que se tratava quando no término da sessão se depararam com a paisagem exuberante das praias do Aracaju, os areais, brejos e manguezais e não conseguiam compreender como um lugar pantanoso e desabitado se tornaria a capital da província.

A estratégia ardilosa de Inácio já havia sido alinhavada no ano anterior quando transferiu para o povoado de Santo Antônio do Aracaju a alfândega, a Mesa de Rendas Provinciais e mandou construir uma agência do correio e uma sub delegacia de policia.

Após todas essas manobras políticas nada mais poderia impedir a marcha do projeto, e em 17 de março de 1855 a Lei é sancionada. Foi um alvoroço, uma verdadeira subversão política, econômica e social. Aracaju já nasceu capital. Esta ousadia é uma das marcas da cidade que perdura até os dias atuais.

Um tabuleiro de xadrez.

O plano urbanístico de Aracaju desafiou a capacidade da engenharia da época. A cidade foi implantada numa área de pântanos e charcos. O desenho urbano foi elaborado por uma comissão de engenheiros, tendo como responsável Sebastião 8asilio Pirro.

Pirro elaborou um plano de alinhamento. Dentro de um quadrado de 540 braças, ou seja, 1.188 metros, estavam traçados quarteirões iguais, de forma quadrada, com 55 braças de largura, separados por ruas de 60 palmos. Era a simplicidade e o rigor geométrico.

Esta primeira concepção só feria seus limites extrapolados após cinqüenta anos, quando a população menos abastada começou a pular o "quadrado de Pirro".

Alguns estudos a respeito de Aracaju propagaram a idéia de que o plano da cidade havia sido concebido a partir da implantação dos modelos de vanguarda na época - Washington, Chicago, 8uenos Aires.

O centro do poder político - administrativo, (atual praça Fausto Cardoso) foi o ponto de partida para o crescimento da cidade. Todas as ruas foram arrumadas geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, para desembocarem no rio Sergipe.

Até então, as cidades existentes antes do século XVII, adaptavam-se às condições topográficas naturais, estabelecendo uma irregularidade no panorama urbano. O engenheiro Pirro contrapôs-se a essa irregularidade e Aracaju foi no Brasil, o primeiro exemplo dessa tendência geométrica.

Nem tudo são flores.

Como era de se esperar, a Câmara de São Cristóvão protestou e fez muito barulho. Reclamou ao presidente da província, ao Governador Geral do Brasil, ao trono de Portugal, só faltou o Papa, mas nada adiantou. Após muitas lutas e discussões a mudança foi aceita.

O primeiro ano.

O que estava por vir abalaria os alicerces da cidade em construção. No ano de 1856 dois duros golpes afetaram o andamento das coisas: a morte de Inácio, o idealizador, e a epidemia de cólera que assolava o Brasil. A sorte da jovem capital estava lançada. Se outras cidades que já contavam com o funcionamento de todos os órgãos, inclusive hospitais públicos, sofreram, imaginem a tragédia na praia do Aracaju, pois para começar, faltava a cidade.

O mais inexplicável é o fato de uma série de acontecimentos negativos não terem provocado uma reação em cadeia nos moradores, o que seria facilmente alimentada pelos inimigos da nova capital, já sem seu principal defensor. Paradoxalmente, a morte de Inácio Barbosa e a epidemia de cólera salvaram a cidade. Não se podia duvidar da força e da resistência de um organismo que, recém-nascido, conseguiria sobreviver a tão duras provações. Era a prova de que Aracaju seria uma cidade de gente que não se deixa abater e que está sempre disposta a recomeçar, a ressurgir das cinzas, como Fênix.

A carência de materiais e a falta de operários qualificados na construção civil foi outro problema grave. As conseqüências disto poderiam ser hilárias se não fossem perigosas - o telhado da Mesa de Rendas ruiu, as paredes do quartel desaprumaram e as bicas do Palácio do Governo despejavam água para dentro do edifício, sem citar os prejuízos maiores e os sustos de alguns moradores. Mas nada poderia impedir o desejo daquelas pessoas.

As primeiras décadas.

Somente em 1865 a cidade se firmou. Era o término de uma década de lutas contra o meio físico e contra as pessoas que não eram a favor do grande sonho. A partir desta data ocorre um novo ciclo de desenvolvimento, que dura até os primeiros e agitados anos após a proclamação da república.

Em 1884 surge a primeira fábrica de tecidos, marcando o inicio do desenvolvimento industrial. A resolução 568 de 4 de janeiro de 1864 expandiu os limites do município. Em junho de 1886, Aracaju já possuía uma população de 1.484 habitantes, já havia a imprensa oficial além de algumas linhas de barco para o interior.

Um único médico, também professor, Pedro Autran da Mata, atuava legalmente na capital. Nos anos seguintes outros profissionais liberais vieram, oriundos principalmente das faculdades da Bahia, Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro.

Em 1900 inicia-se a pavimentação com pedras regulares e são executadas obras de embelezamento e saneamento.

Os bondes de burro chegam em 1908 e em 1926 são substituídos pelos bondes elétricos. É a modernidade chegando e Aracaju tinha que aderir aos novos inventos.

As principais capitais do país sofriam reformas para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes. Aracaju, que já nasceu vanguarda, acompanhava e em 1908 é inaugurado o serviço de água encanada, um luxo para a época. Em 1914 é a vez dos esgotos sanitários e no mesmo ano chega a estrada de ferro.

A comunicação entre o povoado que deu nome à cidade e a cidade em si, foi dada através da construção da Estrada Nova. Em 1922 a estrada é denominada Avenida Independência e em 1933 rebatizada com o nome de Avenida João Ribeiro.

Bairros periféricos como o Siqueira Campos surgiam para abrigar as pessoas vindas do interior, era o êxodo rural provocado pela grande seca ou pelas perseguições de Lampião aos rivais políticos. Esta fuga foi o primeiro fenômeno geográfico de diferenciação social em Aracaju.

As terras de maior valor comercial faziam fronteira com o rio Sergipe - era a rua da frente, atualmente Av., lvo do Prado, mas a rua ltabaiana vai se tornando aos poucos o logradouro preferido da classe dominante.

A chegada da Petrobrás.

Aracaju entraria em um novo ciclo de desenvolvimento a partir de 1963. A recentemente criada Petrobrás chegava á cidade após a descoberta de petróleo no subsolo e plataforma marítima. O modo de vida da cidade começaria aos poucos a mudar.

A renda per capita de população crescia rapidamente e o padrão de vida também, fazendo surgir uma legião de consumidores exigentes, obrigando os prestadores de serviços a acompanhar esta evolução.

A descoberta de um novo destino.

Aracaju já se encontrava estabilizada nos anos 70. Cidade de porte médio, sem problemas de segurança nem infra-estrutura, boa densidade demográfica, belas praias e um povo simpático e de bem com a vida. Alguns turistas acidentais começavam a aparecer, muitos desembarcavam na cidade por curiosidade e acabavam ficando - há vários casos de estrangeiros morando em Aracaju após uma paixão arrebatadora pela cidade. O turismo não era explorado profissionalmente e somente em 1977 é criada a EMSETUR - Empresa Sergipana de Turismo. Até o início dos anos 80 pouca coisa havia sido feita em prol do desenvolvimento do turismo sergipano, mas uma grande guinada estava para acontecer.

O governo despertou para a grande indústria e as obras de infra-estrutura turística começaram a ser realizadas. Aracaju recebeu hotéis de nível e teve sua Orla na praia de Atalaia construída, hoje, o mais importante cartão-postal da cidade; rodovias foram implantadas para facilitar o acesso ás praias dos litorais sul e norte; outros equipamentos turísticos foram instalados e um grande trabalho de catalogação das potencialidades foi leito, aliado á divulgação nos principais veículos do pais.

Após todo este trabalho, Aracaju vai se consolidando como destino turístico - cidade caprichosa, vaidosa e acima de tudo, ousada.

Curiosidades.

O primeiro carnaval em Aracaju foi realizado em 1894. Pequenos grupos de foliões saíram ás ruas fantasiados, cantando ao som de instrumentos de percussão. Ninguém, naquela época, poderia imaginar que o carnaval brasileiro, cento e quatro anos depois passaria a ser oficialmente aberto em Aracaju. O PRÉ-CAJU se consolida como a maior prévia carnavalesca do Brasil e integra o calendário internacional de eventos da Embratur. Coisas de Aracaju!

A manifestação religiosa que agrega multidões há muitos anos é a procissão fluvial do Bom Jesus dos Navegantes, sempre realizada no dia 1° de janeiro no estuário do rio Sergipe. A primeira procissão data do ano de 1857.

A tão falada praia do Aracaju, segundo referências dos jornais de 1855, designava a atual praia do Bairro Industrial, local onde ocorreu a sessão extraordinária da Assembléia que aprovou a mudança.

Aracaju vem da língua Tupi e significa "cajueiro dos papagaios". Outras versões existem, sendo esta a mais aceita.

JOÃO MANOEL APRESENTA...